quinta-feira, 12 de abril de 2012

CRÔNICA DA SEMANA...

Tendo como inspiração a volta para casa...




TRÂNSITO


Ele chegaria mais tarde em casa outra vez. O trânsito estava caótico, isso já se transformara numa rotina, ontem, hoje e certamente amanhã.
“Ninguém faz nada”, esbravejava em seu interior. Mas, quase que simultaneamente, desculpava o mundo e redimia a todos em sua volta, são vítimas! “Eu também não faço nada!”
“Mudarei essa história, serei eu o herói. Farei protestos! Levarei ao conhecimento das autoridades meu descontentamento e minha fúria, afinal sou cidadão desta cidade! Quem me ouvirá?”
Movimento, a fila andou. A esperança ressurgiu, talvez seja apenas um pequeno entrave a frente, manutenção na pista talvez. “Isso são horas para reparos na pista? Não, talvez seja um carro quebrado. Também, com tanto carro velho circulando, é isso que dá...”
“É, mas pode ser acidente. Meu Deus! Haveria alguém ferido? Ou será que...” Afastou o pensamento mórbido.
A inquietação do espírito dissipou-se, nenhuma de suas expectativas confirmaram-se, apenas excesso de veículos. Percorreu mais cinquenta metros.
Desviou o olhar da longa fila avermelhada à sua frente.
“Nunca tinha reparado nesse edifício...”, pensou.  “Mas, parece que não estava aqui ontem, como essas construções são rápidas! A reforma do banheiro lá de casa parece demorar uma eternidade!”
“O prédio é bonito. Serão dois ou três quartos? Ah! Tem uma janela do outro lado, definitivamente serão três quartos. No mínimo dois carros. Mais pessoas, mais carros... Ficaremos todos sem ter como sair do lugar, nem para frente, nem para trás. Como será a vida, então? O trânsito será mais caótico do que agora. Será isso possível? Depois de caótico seria o quê? Terrível! Maldito!”
“Que inferno! Não anda!”
“É isso: Trânsito infernal! Já tem até o vermelho para combinar! Que loucura!” Pensou, levando as duas mãos ao rosto.
Aquietou-se depois da explosão interna com precipitações estomacais. Há tempos seu estômago dava sinais de problemas.
Ainda pensava nos carros, afinal eram tantos à sua frente. “Porque se fabricam tantos carros? Mas, se não forem fabricados haverá desemprego. Não, nem pensar! Meus pedidos seriam reduzidos pela metade! Não, definitivamente não! Preciso manter as vendas, caso contrário, atrasarei de novo a prestação do carro”.
Olhou ao redor. Pessoas se amontoavam dentro do ônibus ao lado. Espremiam-se e empurravam umas as outras. Muitos de pé, rostos cansados que demonstravam seu infortúnio. “Sabe-se lá a que horas chegarão a suas casas!”
Deu-se por feliz. “Graças a Deus tenho um carro!”
E a fila andou mais cinquenta metros.

Susi Uhren



2 comentários:

  1. Bela crônica Susi, isso é a realidade nua e crua.
    Parabéns...

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  2. Infelizmente é a realidade que enfrentamos a cada dia! Obrigado pelo comentário!

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