quinta-feira, 3 de maio de 2012

CRÔNICA DA SEMANA...


MEU NOME É GENTILEZA

                O semáforo iria fechar, desacelerou e freou lentamente, não queria correr o risco de ser multado, afinal não passava ali com frequência e não sabia se existia um radar por perto. Parou sendo o primeiro da fila, antes da faixa de pedestres, como todo bom motorista deveria fazer. Sentiu-se orgulhoso por isso.

                Mal os carros pararam, algumas pessoas deixaram as calçadas em direção a janela do motorista. Sabia que ia ser abordado, tentou levantar o vidro, mas não deu tempo.

                - Bom dia Chefia! Falou um homem, aparentando seus cinquenta anos, com sorriso no rosto e bastante simpático. Tinha um gingado e falava manso.

                - Desculpe, mas não tenho nenhum trocado hoje! Respondeu bastante desconfiado.

                - Não estou pedindo dinheiro, apenas fazendo meu trabalho.

                - Ah! Mas também não preciso que lave o vidro...

                - Chefia, você não entendeu! Nunca passou por aqui?

                - Não. Hoje foi uma exceção!

                - Esse é meu ponto de trabalho e de meus colaboradores também. O pessoal sabe, fazemos coleta de recicláveis.

                - Aqui no farol? Perguntou espantado.

                -É isso mesmo. Está vendo aquele pequeno galpão do outro lado? Apontou para um imóvel com uma pequena construção e um espaço tomado por pilhas de materiais. Estava um tanto desorganizado.


                - Lá fazemos a separação de tudo o que os motoristas nos entregam.

                - Mas o farol é um ponto de coleta?

                - Estratégia chefia! Estratégia! Não tem quem faça a coleta nas casas e como este é o caminho de muita gente, aproveitam para deixar aqui o que juntaram.  Melhor do que jogar pela janela do carro. É ou não é?

                - Com certeza!

                - Então lembra de nós! Meu nome é Gentileza. É isso aí, Gentileza pela Natureza! Vai com Deus!

                O semáforo abriu, os carros começaram a sair, ele ainda demorou alguns segundos e olhou aquelas pessoas carregando sacos cheios de embalagens, papeis e outras coisas. Nunca tinha visto aquilo. Acenou com a mão em despedida e partiu. Pensava naquilo tudo, balançava a cabeça com um ar de admiração e repetiu baixinho: 


               - Gentileza pela natureza!

Susi Uhren
maio/2012