sexta-feira, 22 de junho de 2012

CRÔNICA DA SEMANA...

Assunto: sacolinhas...

AQUI SE FAZ, AQUI SE PAGA!



Entrou na fila que os anos lhe concederam a regalia. Mas, naquele momento nem era tanta regalia assim, afinal, a quantidade de pessoas que desfrutavam do mesmo privilégio pareciam estar todas à sua frente. Suspirou e permaneceu ali.

Logo percebeu que havia algum problema, a fila não andava e todos pareciam impacientes. Esticou-se, desviou para esquerda e depois para direita, subiu na ponta dos pés, num grande esforço para saber o estava acontecendo! Aos poucos percebeu que o grande problema era a tal da sacolinha. A consumidora desavisada reclamava porque havia trazido sua sacola retornável sem necessidade, porque o supermercado achou de distribuir as sacolas novamente!

- Vocês não sabem o que querem! Por acaso essas sacolas são bio sei lá o quê, como disseram na TV? Perguntava irritada.

- Não sei minha senhora. Respondia a moça do caixa sem entender a reclamação.

- Isso é falta de respeito, viu moça! Primeiro, não haveria mais sacolinhas. Por isso comprei essa sacola retornável aqui e sacos de lixo também! Sabe, eu não usava saco de lixo, usava as sacolinhas. Depois que gastei o pouco que tenho, porque, você sabe, sou aposentada e com muito sacrifício, porque se aposentar não é fácil...

Enquanto isso na fila, todos resmungavam, alguns concordando, outros, porém, não viam a hora daquela ladainha terminar e até erguiam um tanto a voz ao pedirem para a fila andar. Mas, mesmo com todo aquele desconforto, a senhora continuava com seu protesto.

- Vocês me deram algum desconto quando deixaram de distribuir as sacolinhas? Claro que não! Concluiu.

- Minha senhora, interrompeu a moça do caixa, por favor, eu guardo as sacolinhas e a senhora usa a sua, mas preciso encerrar a sua compra, a fila está aumentando e todos estão esperando!

A essa altura, alguns deixaram de lado seu direito e passaram para a fila ao lado, no entanto, a senhora da fila que acompanhava a conversa parecia se interessar pelo caso.

 - A senhora poderá usá-la em outros lugares! Vai pagar em dinheiro? Perguntava na tentativa de encerrar ali mesmo a contenda.

- Eu ainda não vou pagar, quero saber quanto terei de desconto?

Percebendo que algo acontecia no caixa destinado a pessoas com necessidades especiais, o gerente da loja resolveu ir até lá para saber qual era o problema.

- Não tenho como conceder desconto! Explicava a moça do caixa.

- O que está acontecendo? Perguntou o gerente.

- Está senhora quer desconto porque comprou a sacola retornável e agora  que voltamos a distribuir as sacolas de plástico...

- Como assim? Interrompeu o gerente. Não estou entendendo, a senhora quer desconto porque voltamos a distribuir as sacolas? Falou com certo espanto.

A senhora começou a sua argumentação do início, desde quando havia se aposentado. Nesse momento houve grande reclamação na fila e o gerente achou por bem retirar a senhora dali e liberar o caixa para os demais clientes.

Levou a senhora pacientemente até o balcão próximo onde conversaram durante algum tempo.

A senhora da fila que acompanhava atentamente o desenrolar dos acontecimentos, mal prestou atenção no registro dos itens que comprara, pois, a cada momento procurava a senhora e o gerente na tentativa de saber qual seria o resultado.

Embalou suas compras, pagou, recolheu suas sacolas e quando preparava-se para deixar o caixa percebeu que a tal senhora aposentada, dona da sacola retornável, estava deixando o supermercado. Parecia satisfeita e tinha um sorriso no rosto, então concluiu que o assunto fora resolvido. Mas como? Pensou. Será que conseguiu o tal desconto, perguntava-se.  Queira saber o resultado. Ainda parada, buscou pelo gerente com o olhar e o encontrou. 


O rapaz andava rapidamente em direção a uma sala destinada a pessoas autorizadas. Tinha na expressão um descontentamento característico dos que foram contrariados e, um detalhe, nas mãos estava a sacola retornável que pertenceu a senhora aposentada! 


A senhora sorriu e pensou: Aqui se faz, aqui se paga!








Susi Uhren
 Inverno, 2012    


Nenhum comentário:

Postar um comentário